Nos bancos do Manoel Ribas (Maneco) tive a sorte de ter sido preparado, nos anos 1960, por um conjunto de notáveis professores que transformaram aquela escola - à época - no estabelecimento escolar padrão do Rio Grande do Sul. Relembro hoje, com carinho, de alguns deles.
O Dr. Paulo Lauda foi meu fabuloso professor de química orgânica. Médico formado na Universidade Federal do Paraná (a primeira Universidade brasileira, fundada em 1912), clinicava em Santa Maria e tinha grande militância política. Foi eleito prefeito municipal pela sigla do antigo PTB. Foi professor de dermatologia do curso de Medicina da UFSM, onde foi - por várias vezes - escolhido paraninfo e homenageado das turmas de formandos, tal a admiração que os alunos nutriam por ele. Ela dava aula sempre no último período, que terminava às 12h30min. Muitas vezes, ele me ofereceu carona até minha casa, em seu carro DKW vermelho e branco. Tempos depois, durante muitos anos, foi presidente do Avenida Tênis Clube. Na época de verão, depois de assinar a papelada na secretaria do ATC, sentava- -se numa mesa ao lado da piscina para tomar seu whisky. Já casado e formado, muitas vezes lhe fiz companhia nessa mesa para papos intermináveis e grandes recordações.
O mestre Constantino Reis foi professor de Física do Maneco, recém-transferido da cidade de Cruz Alta por perseguição política devido à altercação mantida com um aluno, filho do delegado de polícia daquela cidade. Uma vez em Santa Maria, Constantino Reis também fez o curso de Engenharia Civil na UFSM. Fundou, deu aulas e dirigiu até o Curso Pré-vestibular Constantino Reis, situado à Rua dos Andradas, logo abaixo da Avenida Rio Branco. Com notáveis recursos didáticos, foi um grande professor de física. O professor Constantino notabilizou-se pelo uso didático que fazia do quadro-negro, com caprichosos gráficos e elucidativos cálculos demonstrados em minúcias. Nunca vi outro professor fazê-lo igual.
O mestre Edgar Libino Koekner talvez tenha sido um dos mestres que mais influência teve na minha formação, pois sempre nutri verdadeira admiração por sua cultura e inteligência. Fui seu aluno de francês durante três anos. Ficava fascinado por sua extraordinária memória e sua cultura geral. É de sua autoria essa frase que sempre repeti aos meus alunos: "A memória é esta incrível faculdade que só possui uma propriedade: a de esquecer as coisas que aprendeu". E o Edgar nos ensinava, então, que "para não esquecer, só há um método: a técnica da repetição". Uma figura inesquecível !
O professor Adelmo Simas Genro foi meu professor de português e de francês. Talvez tenha sido o professor com o qual mais intimidade tive pelo fato de conviver quase diariamente com toda a sua família. Carlos Horácio Hertz Genro, seu filho, médico radiologista, foi meu colega nas quatro séries do primeiro grau e nas três séries do segundo grau, isto é, durante sete anos sentamos lado a lado, na primeira fila de carteiras da sala, pois as carteiras eram para dois alunos. Adelmo morreu quando se recuperava de uma cirurgia feita em Porto Alegre e deixou muita saudade. Seu nome é lembrado pela Câmara de Vereadores numa de suas dependências. E também o estúdio principal da então Rádio CDN, hoje Rádio Antena 1, dirigida pelo amigo Paulinho Ceccin, recebeu o nome do Adelmo.
A professora Tereza Grassioli foi a melhor professora de botânica que tive em toda a minha vida e uma das responsáveis por ter feito vestibular para Agronomia e ter me transformado em professor de Biologia. Dava toda a matéria, desde citologia e histologia, passando pela fisiologia, organologia e indo até à sistemática ou taxonomia vegetal. Sabia, como ninguém, fazer fantásticos e maravilhosos desenhos de angiospermas e gimnospermas no quadro- -negro. A partir de 1967, já formado e dando aulas na UFSM, fui seu colega no Departamento de Biologia, onde ela exerceu a chefia, sucedendo os professores Dr. Romeu Beltrão (médico) e Dr. Armando Adão Ribas (Engenheiro Agrônomo). Notável professora! A professora Maria Antunes Bernardes morava com a mãe e irmãs numa antiga casa, situada entre a Avenida Rio Branco e a Rua André Marques, quase ao lado da residência de Dom Luiz Victor Sartori, bispo diocesano à época. Foi minha professora de português e literatura brasileira. Ministrava encantadoras aulas sobre o barroco, realismo, romantismo, modernismo, etc...Seu irmão, Sérgio Carvalho Bernardes, foi professor de geografia e Pró-reitor de Graduação da UFSM. "Mariazinha", como era carinhosamente chamada por todos, casou-se com Nevaldo Sanger, plantador de arroz em Uruguaiana. Ambos morreram, com apenas uma semana de diferença.
Infelizmente, não posso escrever sobre todos os queridos professores que - qual cachoeira - brotam e explodem sem parar da minha memória. Meu carinho é imenso por todos eles. Tiveram influência tremenda na formação da minha personalidade e da minha cidadania. Influenciaram nos rumos da minha vocação.
Sou eternamente grato a todos eles!